Desejo e Revolução:
É Possível Unir a Luta de Classes e o Tesão?
Por Enjolras, correspondente da Justiça e do Futuro

Franceses, irmãos e irmãs de causa, hoje trago uma questão que provoca e inspira em igual medida: a luta de classes e o tesão podem coexistir? À primeira vista, parece uma pergunta leviana, mas ouso dizer que ela toca o âmago de nossa condição humana. Podemos, em meio à batalha pela justiça, abraçar também os impulsos do desejo?
A resposta, creio eu, não é apenas sim – é uma obrigação. Pois o tesão, como a revolução, é uma força pulsante, indomável, que nasce daquilo que nos torna vivos. Ambos compartilham a mesma raiz: a necessidade de conexão, de liberdade, de vida plena. E talvez seja exatamente nessa interseção que possamos encontrar a verdadeira potência da transformação.
Desejo e Revolução: Forças Complementares
Para compreender essa relação, precisamos primeiro desfazer uma armadilha imposta pelo sistema que combatemos: a ideia de que o prazer é um desvio da luta, algo egoísta ou fútil. Este é o mesmo sistema que nos rouba o tempo, a dignidade e os direitos, e ainda nos faz sentir culpados por buscar alívio ou alegria. Mas o prazer – seja ele físico, emocional ou espiritual – é, na verdade, um ato de resistência.
A luta de classes nos ensina a valorizar a coletividade e a justiça. O tesão, por sua vez, nos lembra de que somos seres sensíveis, pulsantes, movidos por paixões que transcendem o racional. Negar isso seria negar nossa própria humanidade. E que revolução pode triunfar se rejeita aquilo que nos torna humanos?
No entanto, o desejo deve ser emancipado das estruturas que o aprisionam. No capitalismo, até o tesão é mercantilizado, reduzido a transações e objetos de consumo. A verdadeira revolução erótica, portanto, é aquela que rompe com a lógica de posse, que recusa as dinâmicas de exploração e resgata o prazer como uma força libertadora, igualitária e transformadora.
A Luta de Classes no Quarto e Fora Dele
É impossível falar de desejo sem reconhecer que ele também é atravessado por questões de poder. Na luta de classes, como no amor e no sexo, é preciso destruir as hierarquias que oprimem. Não há espaço para dominação ou submissão forçada – o tesão revolucionário é aquele que se constrói na base do respeito, do consentimento, da troca justa.
E não se enganem: o desejo também é político. Amar ou desejar alguém de uma classe diferente, por exemplo, carrega consigo toda a tensão das desigualdades sociais. Mas quando esses encontros se dão de forma consciente, quando rompem com as barreiras que nos separam, tornam-se um ato de desafio. O amor que não se curva às divisões impostas pelo sistema é, ele próprio, uma pequena revolução.
Quando a Revolução É Erótica
Há algo profundamente erótico na luta. Marchar lado a lado com companheiros, compartilhar o calor das barricadas, sentir a força do coletivo – tudo isso é uma expressão de conexão humana que transcende o individual. O tesão revolucionário não é apenas físico; é também intelectual, espiritual, uma fome por um mundo melhor.
Essa energia, que nasce nas ruas, pode e deve ser levada para outros espaços. Em nossas relações pessoais, em nossos corpos, podemos experimentar a liberdade que desejamos para o mundo. Tesão e luta não são forças opostas; são duas faces da mesma moeda. Ambos nascem do desejo por plenitude, por justiça, por vida.
Prazer e Justiça, Mãos Dadas
Se a revolução busca construir um mundo onde todos sejam livres, como podemos negar a liberdade do desejo? Tesão não é distração, é combustível. É a fagulha que nos lembra por que lutamos, por quem lutamos, e o que queremos construir.
Franceses, não há vergonha em desejar enquanto resistimos. Pelo contrário: há poder, há coragem, há humanidade. Que nossa luta seja guiada tanto pela razão quanto pela paixão. Que nossa bandeira tremule tanto sobre as barricadas quanto sobre os lençóis. E que o mundo que construirmos seja um onde a justiça e o prazer coexistam, não como opostos, mas como aliados.
À la liberté, à l’amour et à la révolution!